A história da catequese se entrelaça na própria história da Igreja. A memória do passado é o alicerce para que no presente seja transmitida a mesma fé vivida e testemunhada pelos apóstolos. Conhecer a história é saber reconhecer os grandes feitos de homens e mulheres que doaram sua vida em favor do Evangelho de Jesus Cristo, na missão de coordenar a sinodalizar.
Tomemos como exemplo o ministério de Pedro, Paulo e Tiago, relatado em Atos dos Apóstolos, capítulo 15, naquela assembleia decisiva sobre o anúncio do Evangelho, que ficou conhecida como Concílio de Jerusalém.
Justamente, no centro do livro (Atos dos Apóstolos contém 28 capítulos), São Lucas deixa registrado um ícone do modo de proceder de lideranças na Igreja. Já antecipadamente, nossa gratidão a São Lucas pela atitude perspicaz de registrar como devem ser concluídas as reuniões pastorais: sempre em harmonia, com decisões aplicáveis aos fiéis, sem peso (At 15,28), mas como discernimento na fé sob a guia do Espírito Santo.
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PEDRO, TIAGO E PAULO E O MISTÉRIO DA VOCAÇÃO
Pedro, Tiago e Paulo foram chamados pelo Senhor Jesus e responderam ao seu modo à vocação que lhes foi confiada.
No contexto do 3º Ano Vocacional do Brasil, é importante recordar o que ensina o Texto-Base: “é partindo do infinito amor de Deus que a pessoa poderá responder ao chamado a ser discípula missionária em meio à humanidade. Uma resposta de amor e gratidão ao Amor recebido gratuitamente de Deus, que move a entrega da vida pela salvação do próximo” (n. 43).¹
Pedro e Tiago fizeram a experiência com o Amor de Deus em Jesus de Nazaré, no caminho entre as casas e ruas das cidades onde Jesus passou “fazendo o bem e realizando todas as espécies de cura” (At 10, 38).
Paulo teve a sua experiência própria, mas com o mesmo Amor, que lhe revelou a plena “dignidade de filho, obra do Espírito, que clama em nós: Abá!” (Gl 4, 5-6).
E nós, membros da comunidade cristã, que carregamos a marca do Batismo, co-herdeiros do Reino de Deus, somos vocacionados para amar. “Nesta peregrinação dentro do tempo e da história em que estamos, o que nos identifica e nos une é o Amor-Serviço” (CNBB, 2022, p.29).
Vocação que testemunha o coração ardente após o encontro com Jesus, é aquela que está sempre a caminho para amar e tornar o Amor conhecido e amado.
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PEDRO, TIAGO E PAULO: A MISSÃO DE COORDENAR
Pedro e Tiago fizeram parte do grupo mais próximo de Jesus, os apóstolos. Foram escolhidos para aprender na convivência com o Mestre os mistérios do Reino de Deus (Mt 25, 11). Tiveram a oportunidade de perguntar diretamente a Jesus qual o significado da Lei e dos Profetas (que são os conteúdos da transmissão da fé no contexto da revelação ao povo judeu). Aprenderam, por meio de obras e palavras, que “não é aquilo que entra pela boca que torna alguém impuro, mas o que sai da boca” (Mt 15, 11).
Paulo (Saulo de Tarso) não foi escolhido diretamente por Jesus antes de sua paixão e morte. Paulo de Tarso fez a experiência de encontro com o Senhor Ressuscitado, encontro pessoal de conversão, quando estava a caminho de Damasco (atual capital da Síria) com uma carta de permissão para prender os cristãos que lá viviam. Paulo afirma que foi “conquistado por Jesus Cristo” (Fl 3, 12). Paulo havia estudado a fundo a Lei de Moisés com um rabino famoso chamado Gamaliel (At 22, 3), mas foi a partir dessa experiência de encontro que aprendeu a ter como centro de sua vida “não tanto a Lei, mas a pessoa de Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado”.²
Aprendemos com Pedro, Tiago e Paulo que o papel de liderança na comunidade cristã não pode ser confundido com poder, autoritarismo ou aplicação fria de uma lei. A vocação cristã tem sua raiz no Batismo, de onde emana a dignidade de todas as pessoas entre si, perante Deus, pela adoção filial em Cristo Jesus.
Ser líder é assumir um serviço vocacional, uma missão de colaborar para que outras pessoas realizem e aprofundem seu encontro com Jesus, de maneira renovada.
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PEDRO, TIAGO E PAULO: A GRAÇA DE SINODALIZAR
O Concílio de Jerusalém é uma referência para o estilo de conduzir uma reunião em nossas comunidades (e também para sinodalizar).
Paulo e seu companheiro Barnabé se dirigem a Jerusalém (atual capital de Israel), o local da reunião. Vão com uma pauta, um assunto a ser exposto para as demais lideranças. Paulo e Barnabé são lideranças em terras distantes, onde se realiza a missão de anúncio do Evangelho para pessoas de outros povos, identificadas como “pagãs” ou “os gentios”. Estão convencidos de que a fé em Jesus e a verdadeira conversão do coração são critérios suficientes para a admissão dessas pessoas na comunidade de fé, mediante o Batismo.
Pedro era líder dos judeu-cristãos, pessoas que conviveram com Jesus, ou que ouviram o querigma após a ressurreição, mas que mantinham a prática das leis mosaicas, em especial a circuncisão, e demais costumes judaicos. Pedro também liderava o grupo dos apóstolos, era a referência e foi consultado sobre a prática das leis mosaicas por parte dos pagãos. Até aquele momento, Pedro mantinha a opinião de que a circuncisão era uma prática necessária para acolher alguma pessoa na comunidade dos seguidores de Jesus.
Eis que temos o papel da vocação de Tiago, que naquela situação era o bispo de Jerusalém e presidia a Igreja que recém começava a se organizar. Foi diante de Tiago que Pedro, Paulo e Barnabé se encontraram. Sob a liderança de Tiago, cada um apresentou seus argumentos. O Concílio de Jerusalém é a primeira experiência de sinodalidade de que temos notícia. Para sinodalizar, sigamos esse exemplo.
O Papa Bento XVI ensina que Tiago “afirmou, junto aos demais, que os pagãos podiam ser recebidos na Igreja sem precisar submeter-se à circuncisão”. O livro dos Atos nos transmitiu a solução de compromisso, proposta pelo próprio Tiago e aceita por todos os apóstolos presentes, em virtude da qual para os pagãos que acreditavam em Jesus Cristo só se devia pedir que se abstivessem do costume de comer a carne dos animais oferecidos em sacrifício aos deuses”.³
Com Pedro, Paulo, Barnabé e os demais apóstolos aceitando a proposta de Tiago, precisamos aprender a arte de sinodalizar nossas estruturas.
Ser catequista coordenador, ou assumir um serviço de liderança é, antes de tudo, aprender a arte de ouvir, ponderar, apresentar propostas e, de fato, sinodalizar.
Da mesma maneira que a história da catequese se entrelaça com a história da Igreja, as virtudes de catequistas coordenadores e demais lideranças precisam ser inspiradas na experiência missionária dos grandes líderes da Igreja Primitiva, que ensinaram a sinodalizar. Isto é, uma coordenação pastoral sempre precisa ter a Palavra de Deus como princípio de atitudes e estratégias.
Ariél Philippi Machado – Catequista na Arquidiocese de Florianópolis (SC), membro da Rede Lumen de Catequese, Teólogo e Especialista em Catequese – Iniciação à Vida Cristã
[1] CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Vocação: graça e missão: “corações ardentes, pés a caminho”. Brasília: CNBB, 2022. p. 29. [Texto-Base, n. 43].
[2] BENTO XVI. Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Cristo. Trad. Gian Bruno Grosso. São Paulo: Planeta, 2010. p. 111.
[3] BENTO XVI. Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Cristo. Trad. Gian Bruno Grosso. São Paulo: Planeta, 2010. p. 65-66.