A história da catequese na vida da Igreja já teve influência de inúmeros contextos. Brevemente, podemos citar: 1) a catequese de iniciação à fé, no período apostólico e patrístico; 2) a catequese de imersão, caracterizada pela cristandade, no período da Idade Média; 3) a catequese pela via da doutrina e da memorização, no período após o Concílio de Trento e da Modernidade; 4) a catequese de modelo escolar, com o desenvolvimento das diversas ciências pedagógicas e sociais; 5) e em nossos dias, a catequese de inspiração catecumenal, com a revisão e reorganização da transmissão da fé por meio do paradigma da iniciação à vida cristã.
As reflexões mais recentes sobre a catequética e da catequese a serviço da evangelização, defendem que o ato catequético não pode ser aula ou atividade de mero aprendizado doutrinal, mas sim, uma experiência concreta de encontro com Jesus Cristo e adesão sincera à sua mensagem de salvação.
Nesta caminhada progressiva de reflexão e propostas de pedagogias para a catequese alcançar seu objetivo de “ajudar os homens a crerem que Jesus é o Filho de Deus, educá-los e instruí-los nesta vida, e assim construir o Corpo de Cristo” (CIgC, n. 4), a catequese tem o desafio de ser espaço de alegria, de encantamento, de mística e experiência com a pessoa de Jesus Cristo.
E a experiência de fé não tem data e local programados para acontecer. E, por isso mesmo, é preciso investir em propostas criativas para que as atividades da catequese, e o planejamento delas, superem o calendário escolar e estejam presentes no cotidiano das pessoas, envolvendo-as em todas as situações e dimensões.
Apostar na criatividade de novos métodos na catequese
O Diretório para a Catequese, promulgado em março de 2020, defende a pluralidade de métodos na catequese: “A Igreja, ao manter viva a primazia da graça, sente com responsabilidade e sincero cuidado educacional a atenção aos processos catequéticos e ao método. A catequese não tem um método único, mas está aberta a valorizar diferentes métodos, relacionando-os com a pedagogia e a didática, e permitindo-se guiar pelo Evangelho necessário para reconhecer a verdade do ser humano” (DC, n. 195).
Durante os períodos de festas, recessos e férias, é preciso ter atenção àquelas práticas essenciais da vida de fé, para que não sejam influenciadas pelo sintoma do “merecido descanso” e da famosa desculpa das “férias merecidas”.
É bom lembrar que a preguiça é um dos pecados capitais, quando nos deixamos levar pela falta de empenho e negligência dos deveres da vida cristã, por exemplo, a oração pessoal, a celebração dominical, dentre outros.
Por outro lado, as férias e os períodos de descanso são marcados por reuniões familiares, encontros de amigos, momentos festivos que nos marcam e nos educam para a arte de celebrar e cultivar boas companhias. A recordação de fatos e a partilha de experiência são valores necessários para a nossa cultura imersa no fenômeno digital.
Por esse motivo, afirma também o Diretório, “A Igreja é chamada a abrir-se, com o correto senso crítico, também à arte contemporânea, “incluindo aquelas modalidades não convencionais de beleza que podem ser pouco significativas para os evangelizadores, mas tornaram-se particularmente atraentes para os outros” (DC, n. 212).
Por isso, acolhendo os sinais dos tempos, diante da atração das novas gerações pelo fenômeno da convivialidade, de atividades colaborativas e da necessidade de sentido durante a realização de algumas atividades, trazemos o diálogo pertinente sobre a proposta de atividades lúdicas, por exemplo, os jogos em equipe e de tabuleiro, para serem reconfigurados com o conteúdo da catequese e aplicados com as famílias em seus períodos de férias e descanso.
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É brincando que se aprende
Por meio do brincar é que se desenvolvem as mais importantes habilidades, já na infância. Filhotes de leões brincam para aprender a caçar, num ambiente seguro e controlado. Crianças brincam de amarelinha enquanto desenvolvem coordenação motora e equilíbrio, jogam queimada enquanto desenvolvem trabalho em equipe e, brincando de desenho e pintura, vão preparando suas pequenas mãos para a atividade da escrita.
Não é à toa, portanto, que o lúdico é tão presente na vida das crianças e adolescentes: nas brincadeiras da infância; nos jogos de computador, celular e videogame; e também nos esportes.
Nos últimos anos, também têm voltado à cena os jogos de tabuleiro. Muito populares até os anos 80, foram deixados um pouco de lado com o advento dos jogos digitais. Agora, num mundo tomado por telas, os jogos de tabuleiro foram modernizados e voltam com força total, com cada vez mais pessoas buscando uma diversão “analógica”, recolhendo os benefícios de interação social e conexão humana que estes tipos de jogos oferecem.
Quem também tem aproveitado este fenômeno são as escolas. Na busca pelas “metodologias ativas de aprendizagem”, têm utilizado jogos de tabuleiro e de cartas como instrumento de engajamento dos estudantes no processo de aprendizagem, buscando superar os limites da educação tradicional.
O lúdico na catequese
Há muito tempo o lúdico é utilizado na dinamização de encontros de catequese, seja por meio de dinâmicas de grupo, seja por meio de atividades lúdicas como caça-palavras e desenhos bíblicos para colorir.
Nesse sentido, vêm surgindo iniciativas de desenvolvimento de jogos de tabuleiro específicos para a realidade da catequese. Pensados como ferramentas pedagógicas, estes jogos têm o potencial de enriquecer o processo de iniciação à vida cristã.
Uma das principais vantagens das atividades lúdicas é trazer o/a catequizando/a para o centro da atividade catequética, sendo protagonistas no processo de educação na fé. Assim, fica muito mais fácil conhecer e encantar-se pela história e mensagem de Jesus Cristo.
Os cuidados na escolha das ferramentas lúdicas
Contudo, é preciso estar atento na escolha e aplicação de atividades lúdicas, de modo a garantir que se atinja os objetivos do processo pedagógico proposto na catequese.
É importante sempre ter em mente que os jogos e demais atividades são ferramentas para dinamizar e enriquecer o processo, e não um fim em si mesmos. Dessa forma, devem estar integrados ao que se propõe trabalhar em cada encontro.
Nesse sentido, é essencial a figura do mediador (em geral, o catequista): aquele que fará a ligação entre o que foi vivenciado por meio do lúdico com tema central do encontro de catequese. Quanto melhor for feita essa mediação, maior será o sucesso da atividade lúdica em contribuir com os objetivos do encontro.
Quando pensamos em jogos para a catequese, é importante que sejam pensados de forma a contribuir no caminho de aprendizagem, em vez de serem apenas utilizados como avaliação do conhecimento prévio. Como os catequizandos estão em processo de conhecer a história de Jesus e a vida da Igreja, fica o desafio para que os jogos ajudem a tornar esse processo divertido e interessante.
Sobre os autores:
Rodrigo da Silva Soares é Catequista na Diocese de Joaçaba (SC), Especialista em Juventude, Religião e Cidadania e desenvolvedor de jogos de tabuleiro para catequese.
Ariél Philippi Machado é Catequista na Arquidiocese de Florianópolis (SC), membro da Rede Lumen de Catequese, Teólogo e Especialista em Catequese – Iniciação à Vida Cristã.
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