O processo catequético acontece graças a um dos fatores decisivos da catequese que é a pessoa do catequista: aquele que possui o verdadeiro dom do chamado e tudo faz movido pelo amor que sente e sua dimensão humana que toca a existência do outro. Todavia, enfrentamos uma realidade complexa e desafiadora em que nossos catequistas vivenciam pela falta de interesse e desmotivação dos interlocutores da fé. Justamente neste momento que o catequista é chamado a fazer a experiência do encontro com Aquele cujo dom nunca se esgota e sempre tem algo novo a dar.
Através dos Diretórios de catequese, somos chamados a compreender a dimensão espiritual do catequista, pois é justamente dela que brota o aspecto vocacional. Diante da pergunta: Quem é o catequista? O Papa Francisco responde que “é uma vocação” completando que “Ser catequista: esta é a vocação; não trabalhar como catequista”.[1] Por isso, o catequista é justamente aquele que compromete sua vida com a vida de Cristo, faz continuamente a experiência do encontro com Ele e testemunha essa experiência viva e impactante. Não se trata de uma experiência vazia e superficial, mas àquela que preenche e toca todo ser da pessoa, capaz de motivá-la e encorajá-la para viver sua vocação e sua vida cristã.
Diante desse chamado, a espiritualidade da pedagogia do encontro a qual podemos tomar como modelo Jesus e a Samaritana (Cf. Jo 4, 7-42) é capaz de reavivar o dom gratuito e verdadeiro o qual o catequista recebeu em sua vocação. Assim, diante da complexidade e do atual desafio para uma catequese evangelizadora, que toca, contagia, encanta e envolve o interlocutor no mistério salvífico, o catequista que faz a experiência do poço como lugar de encontro, permanece com sua fonte viva cujo dom é a água viva.
Aquela mulher, inicialmente não sabe quem é aquele homem que se apresenta diante dela e se coloca num encontro o qual irá transcorrer uma descoberta para sua vida. Dar de beber era sinal de acolhimento, catequista que sente acolhido e amado por Jesus deseja fazer o mesmo por aqueles aos quais Jesus deseja que se coloque em seu caminho. Por isso, o Papa Francisco nos convida ao desafio para “deixar de lado toda a diferença e, em presença do sofrimento, fazer-nos vizinhos a quem quer que seja. Assim, já não digo que tenho «próximos» a quem devo ajudar, mas que me sinto chamado a tornar-me eu um próximo dos outros”.[2]
Nesse encontro da Samaritana com Jesus é possível perceber o quanto Ele se dispõe a revelar-se tocando a existência dela. A partir desse encontro o diálogo acontece e progressivamente ela é movida a entender quem Ele era e, principalmente mergulhar no mistério d’Aquele que se revela. O dom de Deus, gratuito, é oferecido a todo aquele que faz a experiência desse encontro quebrando as barreiras das distâncias para se fazer próximo. Por isso, o catequista deve permanecer sempre mergulhado nessa água viva que é o dom de Deus para sua vocação, e assim, viver da graça da alegria e do entusiasmo que enche o coração do catequista e o capacita para ir ao encontro do seu catequizando.
À medida que Jesus dialogava com a samaritana, ela tinha sua sede saciada. O poço é o lugar de encontro onde se faz a experiência pessoal com Ele. O catequista é convidado a diariamente ir a esse lugar no qual terá a oportunidade de reabastecer desse dom gratuito, para aquele que crê, e superar o desafio catequético atual que coloca em risco a própria vocação do catequista.
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Jesus se deixa encontrar por todo aquele que o procura, se faz presente num lugar e num momento em nossa história. Ele deseja que esse poço possa se tornar nossa própria vida, como catequista, para que possamos servir de lugar para que a experiência da pedagogia do encontro aconteça na vida dos catequizandos. Em Jo 4, 26 ele se revela “Sou eu”, Aquele que fala e toca o coração do catequista para essa descoberta de sua vocação, é também, Aquele que sacia a sede da água da vida que é o dom de Deus.
O dom de Deus, que é a água da vida, preenche o ser do catequista através de sua experiência do encontro para que ele não se torne jamais uma “estátua de museu”[3], paralisado ou inativo, mas alguém sempre movido por essa experiência alegre e motivadora que contagia, toca e faz sair de si para lançar-se no outro. A espiritualidade do catequista jamais pode estar distante desse poço, pois quando se distancia da fonte da água da vida, se perde em sua humanidade comprometendo sua vocação e, por consequência, o processo catequético.
Alan Nogueira de Souza, natural de Campos dos Goytacazes – RJ. Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia, especialização em Neuropsicopedagogia e Neurociência: cognição e comportamento. Professor da Escola de Teologia para leigos, Escola diaconal diocesana, Casa de formação religiosa e Colégio Eucarístico. Atuando, sobretudo, na teologia pastoral.
[1] FRANCISCO, Discurso do Papa Francisco aos catequistas vindos a Roma em peregrinação por ocasião do Ano da fé e do Congresso Internacional de Catequese.
[2] FRANCISCO, Carta Encíclica Fratelli Tutti (2020) n. 81.
[3] FRANCISCO, Discurso do Papa Francisco aos catequistas vindos a Roma em peregrinação por ocasião do Ano da fé e do Congresso Internacional de Catequese.
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