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O catequista e o perigo do “lugar comum”

por Redação
lugar comum

Eu chamo de “lugar-comum” aquele pensamento não formulado, mas copiado de outro; aquela ideia não projetada, mas obedecida cegamente; aquela conclusão não alcançada, mas imitada. Ou seja, é a mera repetição, sem sentimento, reflexão ou aprofundamento. Em suma, é uma opinião rasa. No romance O Vermelho e o Negro, Stendhal escreveu: “Se nos limitamos aos lugares-comuns dos jornais, passamos por tolos”; inspirado no texto do autor alerto que o catequista não pode se passar por tolo, admitindo e propalando ideias mundanas adotadas no “lugar-comum”. Para além da interpretação do Evangelho, o catequista deve saber lidar com todos os acontecimentos e cuidar para que, em todos os seus comentários, as palavras sejam sempre de amor e misericórdia.

Catequeses 2025

No Sermão da Montanha somos ensinados a ser sal da terra e luz do mundo[1], porque há na vida cristã algo que nos diferencia do que é mundano e vulgar. Jesus oferece a perfeita interpretação da Lei, não modificando-a, mas esclarecendo-a para que se cumpra a vontade de Deus[2]. Isso porque havia na aplicação da Lei uma limitação mundana, uma carência de espiritualidade e falta de amor. A Lei e seu cumprimento eram impostos ao povo a partir do “lugar-comum”. Por isso era mesmo necessário que o Cristo aclarasse o que o coração corrompido da humanidade havia perdido: a imagem e semelhança de Deus, como está escrito em Levítico: “deveis santificar-vos para serdes santos, porque eu sou santo”[3].

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Jesus interioriza os mandamentos para que possamos compreendê-los em profundidade e dar fiel cumprimento. O “não matarás” toma forma mais caridosa para além do homicídio propriamente dito. Quem age com ira contra o irmão deve ser julgado[4]. O insulto, a raiva, o ódio perpetuado, tudo isso é condenado. Ora, onde há ódio, falta amor. E o verdadeiro amor cristão é o que transborda para além de nós mesmos. Por isso, não nos cabe amar apenas a quem nos convém[5], mas a todos e, especialmente, ao pecador, principal necessitado da misericórdia. O adultério também é entendido para além do pecado da carne e do divórcio, mas é apresentado por Jesus como a persistência da situação de pecado[6]. O mandamento dita mais do que a fidelidade das ações, mas de pensamentos e do coração. Assim: “Todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela em seu coração”[7].

Claro que não darás falso testemunho (não mentirá), mas Jesus nos ensina além; estabelece a integridade[8]. Note que é ensinado a não jurar de maneira nenhuma, mas que teu sim seja sim e não, seja não. Em Apocalipse lemos que Deus vomitará os mornos, aquele que não é nem frio nem quente[9], ao que falta honestidade, cujas palavras não são confiáveis. Vigia teu comportamento: se teus compromissos exigem um “eu juro” para serem confiáveis, se teu testemunho pede um “eu juro” para que se acredite, falta na tua conduta a firmeza de um verdadeiro cristão.

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A Lei, portanto, exige a compreensão do amor infinito de Deus. Não haverá vingança nem ódio com o próximo[10]. Notem que os ensinamentos de Jesus, nesse ponto que analisamos, nos afasta do “lugar-comum”. Aquilo que é ensinado surge sempre do “foi dito aos antigos”, “ouvistes que foi dito”, “também foi dito”, para alcançar o “mas eu vos digo”; para nos tirar da compreensão grosseira e mundana e nos elevar a profundidade do espírito e do amor.

Lembre-se, catequista, de abandonar o “lugar-comum” e buscar sempre o amor de Deus, as lições e o exemplo de Jesus, a intercessão de Maria e dos Santos da Igreja, para que seus pensamentos e suas ações direcionem ao legítimo caminho da salvação. Desde a leitura do Evangelho, às notícias, aos cenários da sociedade e até aos eventos da comunidade, não se deixe conduzir por conclusões rasas e opiniões mundanas. Rezemos para que os dons do Espírito Santo nos completem e elevem nossas virtudes, de forma a transparecer nos encontros o amor de Deus e a integridade de vida cristã. Que assim seja!

Luís Gustavo Conde – Catequista na Catedral Metropolitana de São Sebastião, na Arquidiocese de Ribeirão Preto (SP), atuando na evangelização de jovens e adultos. Autor de artigos para o Portal de Formação da Canção Nova e articulista da Revista Paróquias. Advogado e professor de cursos técnicos profissionalizantes. Marido da Patrícia e pai do Oliver.

CITAÇÕES DO TEXTO BÍBLICO

[1] (Mt 5, 13-16); [2] (Mt 5, 17); [3] (Lv 11, 44); [4] (Mt 5, 21-26); [5] (Lc 6, 27-36); [6] (Mt 5, 27-32); [7] (Mt 5, 28); [8] (Mt 5, 33-37); [9] (Ap 3, 14-22); [10] (Mt 5, 38-48).

REFERÊNCIAS

BÍBLIA DE APARECIDA. Bíblia online da Editora Santuário.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. In textos fundamentais. Arquivo do Vaticano.

SAGRADA BIBLIA. Traducción y notas Facultad de Teología Universidad de Navarra. Edição Digital. Editora EUNSA. 2016.

STENDHAL. O vermelho e o negro; tradução Paulo Neves. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013.

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