Uma catequese com palavras de amor
É bom para o coração ser acolhido com gentileza e misericórdia quando erramos. O erro, seja por ignorância, fraqueza momentânea ou egoísmo, acaba por pesar a alma do pecador. Esse peso pode ser aliviado por palavras de compreensão da condição frágil do ser humano. O quão pequeno nos tornamos quando, na situação de pecador, encontramos a rigidez e o autoritarismo das acusações. Busque, pois, acolher o pecador com a mesma misericórdia que você gostaria de ser acolhido quando errar. Essa é a regra de ouro para uma catequese com palavras de amor: “fazei aos outros tudo aquilo que quereis que eles vos façam”[1].
É comum que o catequista se depare com comportamentos mundanos e supersticiosos de seus catequizandos. É a tendência ao pecado daqueles que não conhecem profundamente os ensinamentos de Jesus Cristo. Nesse papel de formador, o catequista precisa, antes de tudo, ser exemplo. Não atoa o livro dos Atos dos Apóstolos começa dizendo “tudo o que Jesus fez e ensinou”[2], ou seja, fez primeiro, foi exemplo, e depois ensinou. Aqueles que procuram a catequese devem ser recebidos com carinho e compreensão, sejam os jovens e adultos com convicções mundanas ou as crianças que nem sempre encontram em casa um aprendizado adequado.
Além do pecado o catequista precisa transmitir uma posição cristã sobre temas polêmicos. Não raro o catequista se depara com um debate sobre temas muito sensíveis, como o aborto ou a orientação sexual. Às vezes, os temas são horóscopos e outras superstições que, embora menos sensíveis, não são menos importantes para uma boa formação cristã. Esses e outros temas, muitas vezes tratados com fervor e discursos exagerados, devem encontrar na catequese um lugar de esclarecimento, acolhimento e carinho. Ouvir, entender e acolher é sempre o primeiro passo. Depois, são as palavras de amor que devem conduzir a formação dos catequizandos, ainda que demore mais do que um encontro. Esse é um ponto essencial: em temas mais sensíveis ou próprios da convicção de um catequizando, não se apresse em esclarecer as dúvidas. Use palavras de amor e, acompanhado do Espírito Santo, cumpra com carinho a missão evangelizadora.
O catequista é sempre visto em uma posição de rigoroso cumprimento da doutrina. Daí é preciso cuidar para não ser tomado pela arrogância. A constante participação na Santa Missa, a cooperação com as atividades da paróquia, os grupos de oração e toda a atividade que possa identificar a atuação do catequista deve ser equilibrada com suas atitudes e com suas palavras em todos os ambientes que frequente além da igreja. Ao falar da tradição dos antigos, Jesus advertiu aquele que “honra com a boca, mas seu coração está longe de mim”[3]. Catequista, vigia teu coração. Se assim como os fariseus seu coração estiver longe de Jesus Cristo, cedo ou tarde suas ações e palavras irão denunciar a hipocrisia. Voltando aos exemplos de temas do parágrafo anterior, tenha certeza de não adotar uma posição fanática, o que você reconhecerá se suas palavras foram de julgamento e condenação, ao invés de acolhimento e amor.
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Eu carrego comigo uma frase que me foge a autoria, mas uma rápida pesquisa revelou ser de uma escritora francesa chamada Madame de Sable, que diz: “nada é mais perigoso que um bom conselho acompanhado de um mau exemplo”. Eu acrescento: nada é mais perigoso do que um anunciador do Evangelho acompanhado do pecado e do fanatismo. A autenticidade cristã vem do coração e se revela em palavras de amor e ações. Como ensina o Papa Francisco: “As atitudes exteriores constituem a consequência daquilo que já decidimos no nosso coração, e não o contrário: com a atitude exterior, se o coração não muda, não somos cristãos autênticos”. Catequista, vigia teu coração e tuas obras.
Como os encontros de catequese são – em geral – conduzidos em palavras, vigia também essas palavras, para que soem gentis e misericordiosas. Ao deparar-se com conceitos e ações dos catequizandos que demandem correção, faça-o com o máximo de amor. Uma dica é deixar a condenação eterna para outra oportunidade. Evite corrigir um catequizando argumentando que ele irá para o inferno agindo daquela forma. Isso os afasta do perdão de Deus. Encontre o momento oportuno para falar do inferno, à salvo do constrangimento. Prefira a correção pelo amor, pela demonstração de um caminho de santidade que nos direciona para a salvação. Reflita sempre se teu discurso causa medo, tristeza ou insegurança. A mensagem cristã deve ser transmitida com amor, alegria e confiança.
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Note o diálogo de Jesus com Pedro após ele tê-Lo negado três vezes[4]. Pedro, que antes agia com teimosia, foi advertido de que negaria à Jesus, mas insistiu em uma atitude inflamada para, só depois, arrepender-se e chorar amargamente[5]. Ao refletir sobre essa passagem, o Papa Francisco nos ensina que esse diálogo entre o Senhor e Pedro é tranquilo, entre amigos, sereno, virtuoso, às margens do lago onde Pedro tinha sido chamado no início[6]. Animavam este diálogo, explicou o Papa, algumas palavras como “amor, apascentar, as minhas ovelhas, segue-me”, palavras serenas, daquela atmosfera da ressurreição. Assim, estamos diante de um diálogo de amigos e de serviço, porque é feito após a refeição que o próprio Jesus tinha preparado.
É com essa mesma intenção de reconciliação que devemos convidar nossos catequizandos a corrigir comportamentos mundanos, afastar-se do pecado e exercitar as virtudes cristãs. Cada encontro da catequese traz um diálogo entre amigos, pelo qual a missão evangelizadora é transmitida do catequista ao catequizando. Oremos, por intercessão da Virgem Maria, para que o Senhor nos conceda um coração puro, livre de toda a hipocrisia, de modo a sermos capazes de transmitir o Evangelho de forma coerente com a verdadeira mensagem cristã, que é o amor. Que assim seja!
Luís Gustavo Conde – Catequista na Catedral Metropolitana de São Sebastião, na Arquidiocese de Ribeirão Preto (SP), atuando na evangelização de jovens e adultos. Autor de artigos para o Portal de Formação da Canção Nova e articulista da Revista Paróquias. Advogado e professor de cursos técnicos profissionalizantes. Marido da Patrícia e pai do Oliver.
CITAÇÕES DO TEXTO BÍBLICO
[1] (Mt 7, 12); [2] (At 1, 1); [3] (Mt 15, 8); [4] (Jo 21, 15-19); [5] (Mt 26, 75); [6] (Mt 4, 18-22).
REFERÊNCIAS
BÍBLIA DE APARECIDA. Editora Santuário. Edição online.
FRANCISCO. Meditações matutinas na Santa Missa celebrada na Capela da Casa Santa Marta: Nós somos servos. Vaticano, 2 jun. 2017.
FRANCISCO. Angelus. Vaticano, 30 ago. 2015.
SAGRADA BIBLIA. Traducción y notas Facultad de Teología Universidad de Navarra. Edição Digital. Editora EUNSA. 2016.