O desafio de uma catequese bíblica permanente aumenta quando se compara a vida em comunidade ao calendário escolar. Um exemplo prático: as chamadas férias ou os recessos de catequese durante o mês de julho.
Justamente no período após as festas pascais e de outras solenidades (Ssma Trindade, Corpus Christi, Sagrado Coração de Jesus), quando o aprofundamento da fé depende de uma catequese mistagógica, o que se vê são recessos e interrupções da caminhada dos processos de catequese.
Como podemos romper com processos de escolarização para compreender que catequese é percurso, itinerário, caminhada?
Uma catequese renovada e voltada para o caminho feito a partir do Ano Litúrgico é uma resposta possível para que as novas gerações sejam “educadas” para o encontro pessoal e encantamento pela pessoa de Jesus Cristo.
O Diretório para a Catequese afirma: “Não é possível pensar na catequese apenas como preparação para os sacramentos, mas ela se compreende em relação à experiência litúrgica. Portanto, a liturgia e a catequese são inseparáveis e se alimentam mutuamente” (DC, n. 96).
A Bíblia, livro da catequese
Catequese é a arte de fazer memória da fé. O Papa Francisco denomina cada catequista como “testemunha da fé e guardião da memória de Deus” (DC, n. 113). Este é o compromisso de cada catequista no convívio comunitário com seu grupo de catequistas, e no exercício de sua missão e vocação junto às famílias e catequizandos.
A paixão pela catequese se revela e se concretiza no amor pela Bíblia, enquanto Palavra de Deus revelada na vida de homens e mulheres de fé no decurso da história. O amor pelas Escrituras torna a pessoa de catequista uma testemunha das maravilhas que Deus realiza no hoje de nossas vidas.
Há quase quarenta anos, os bispos no Brasil aprovaram o Documento Catequese Renovada (n. 26 da CNBB), que precisa ser retomado para estudos e aprofundamento em cada paróquia. Neste Documento é possível ler o seguinte:
“Toda a Bíblia é a narração, sob a inspiração do Espírito Santo, das experiências concretas de um Povo à procura de Deus e da ação desse Deus se revelando a este Povo. Por isso, a Bíblia, como principal fonte da fé, deve ser lida no contexto da vida, porém à luz da Tradição e do Magistério, que são a garantia para nós de uma correta interpretação” (CR, n. 176).
Neste sentido, o mês de julho é um período muito rico de testemunho de fé de homens e mulheres que estiveram próximos de Jesus de Nazaré, e são fontes de uma catequese bíblica, querigmática e mistagógica, para que catequistas e catequizandos descubram na fonte das Escrituras o poder do encontro sincero com Jesus, que renova nossas mentes e atitudes.
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No mês de julho, a catequese pode se valer do testemunho de santas e santos, para tornar os encontros dinâmicos, a partir da contação de história, da narração das vidas e dos ensinamentos de algumas pessoas muito próximas de Jesus Cristo.
Podemos citar: Santa Maria Madalena (dia 22/07), São Tiago Maior (dia 25/07),São Joaquim e Santa Ana (dia 26/07), Santos Marta, Maria e Lázaro (dia 29/07).
O Diretório para a Catequese destaca a importância de a catequese ser alicerçada no testemunho de fé dos santos e dos mártires: “Desde os primeiros séculos, o exemplo da Virgem Maria e a vida dos santos e dos mártires têm sido parte integrante e eficaz da catequese. Os testemunhos de vida e morte pelo Senhor oferecidos pelos santos e mártires foram autênticas passagens do Evangelho capazes de anunciar Cristo e de suscitar e alimentar a fé nele” (DC, n. 96).
Assim, é possível entender que o Mistério Pascal de Jesus Cristo é o centro e o ponto de irradiação para toda a mensagem da catequese. A partir de Jesus, os mistérios da criação do mundo e da vida humana, a promessa e aliança com o povo de Deus, o testemunho dos profetas e toda a vida da Igreja são transformados em conteúdo de anúncio da fé.
Com ajuda do testemunho de santos e santas, cada catequista precisa despertar para o estudo, a pesquisa e a elaboração de pequenos registros que ofereçam conteúdo sólido sobre “a primeira expansão e formulação da própria fé” (DC, n. 100). Além do devocionismo e da riqueza das festas populares, é preciso descobrir a autêntica mensagem do Evangelho na vida dos apóstolos, dos mártires e de santos e santas.
Como fazer da catequese um lugar de testemunho da fé?
O planejamento da catequese, e de cada encontro com famílias e catequizandos, precisa levar em conta:
PRIMEIRO: a visão global da vida a Igreja, que significa compreender qual os temas e as necessidades da Igreja em nível universal, por exemplo: Qual o desejo e a mensagem do Papa em nossos dias? Já lemos as catequeses do Papa dos últimos meses? Como demonstramos que nossos encontros estão em sintonia com a caminhada da Igreja?
SEGUNDO: a sintonia com o Ano Litúrgico da Igreja, que se mostra em cores, símbolos e conteúdos próprios na liturgia, por exemplo: Como nossa catequese ajuda a fazer sentido na vida das pessoas quando a Igreja muda de um Tempo litúrgico para outro? Qual o envolvimento de famílias e catequizandos na liturgia das celebrações na comunidade?
TERCEIRO: a vida de fé e pertença comunitária de catequistas, que se expressa num desejo de comunhão e de participação tanto do sentido de viver em grupo de catequistas, quando de se fazer próximo da realidade das famílias. Viver em grupo é um desafio, significa saber ceder, dar a vez e a voz aos demais do grupo.
A vida em grupo no contexto da catequese é um laboratório do que significa fraternidade, comunhão, compromisso, pertença.
Catequista, como estas palavras estão presentes na sua vida, vocação e missão?
Estude e conheça a vida dos santos e santas celebrados no mês de julho e evite as pausas, férias e recessos na catequese. Assim será possível crescer no seguimento de Jesus Cristo e vida comunitária, superando a visão sacramentalista da catequese.
Ariél Philippi Machado – (Catequista na Arquidiocese de Florianópolis (SC), membro da Rede Lumen de Catequese,
Teólogo e Especialista em Catequese – Iniciação à Vida Cristã)
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