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Meditações do Papa Francisco: O cristão existe para servir

por Redação

A meditação do Papa Francisco a respeito do serviço

Quanto poderia aprender cada cristão se, com “humildade”, se deixasse ver por Jesus “com o mesmo olhar” com o qual o Mestre fitou os seus amigos durante a última Ceia. Poderia partilhar o privilégio que os apóstolos tiveram de receber e entender o que significa para a sua vida a “herança de Jesus”, o “testamento” que Ele confiou com dois gestos: a instituição da Eucaristia e o lava-pés. O Papa Francisco dedicou a meditação desta missa à hora suprema em que “Jesus se despede dos apóstolos antes da paixão.

Como de costume, Francisco inspirou-se num trecho do Evangelho do dia (Jo 16-20) em que «na alegria do tempo pascal” a Igreja faz meditar sobre “um momento triste, de angústia”: aquele no qual Jesus, que «sabe o que acontecerá”, se despede “com o longo e bonito discurso contido nos capítulos de João”, que precede as horas do Getsémani e da paixão. “Nesta despedida”, frisou o Papa, o Senhor faz “dois gestos que são instituições: dois gestos para os discípulos e para toda a Igreja futura. Dois gestos que são, por assim dizer, o fundamento da sua doutrina”: a instituição da Eucaristia e o lava-pés. Destes gestos “nascem dois mandamentos: os dois mandamentos que levarão a Igreja a crescer, se formos fiéis».

 

 

Os mandamentos

Antes de tudo há o “primeiro mandamento” que é o “do amor”. E é “novo” pois, explicou, “havia o mandamento do amor — amar o próximo como a si mesmo — mas este dá mais um passo: amar o próximo como Eu vos amei”. Portanto: “amor ilimitado”, sem o qual “a Igreja não progride nem respira. Sem o amor, ela não cresce, transforma-se numa instituição vazia, de aparências, de gestos infecundos”. Com a Eucaristia, na qual Jesus “oferece como alimento o seu Corpo e como bebida o seu Sangue”, Ele “diz como devemos amar, até ao fim”.

Depois há outro gesto, o do lava-pés, em que “Jesus nos ensina o serviço, como caminho do cristão”. Com efeito, “o cristão existe para servir, não para ser servido”. E é uma regra válida para a vida inteira”. Tudo está contido nela: “na história, muitos homens e mulheres» que a “levaram a sério” deixaram “vestígios de uma vida verdadeiramente cristã: de amor e de serviço». O Papa resumiu: “Eis a herança de Jesus: ‘Amai-vos como Eu amei’ e ‘servi-vos uns aos outros’. Lavai os pés uns aos outros, como Eu os lavei a vós”.

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A última Ceia

Portanto, na última Ceia o Senhor deixou os dois mandamentos do amor e do serviço, e depois “uma admoestação” que se lê no breve trecho evangélico proposto pela liturgia do dia: “Deveis amar-vos como servos, deveis servir porque sois servos”. E a explicação destas palavras, observou o Papa Francisco, “é também uma regra de vida: ‘Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que o seu Senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou'”.

Isto é: “Podeis celebrar a Eucaristia, podeis servir, mas enviados por mim, mandados por mim. Não sois maiores do que Eu”. Em síntese, trata-se da “atitude da humildade simples, não fingida”: da humildade que vem da “consciência de que Ele é maior do que todos nós, e nós somos servos, e não podemos ultrapassar Jesus, não o podemos usar. Ele é o Senhor, não nós. Ele é o Senhor”.

Portanto, eis “o testamento do Senhor. Oferece-se como alimento e bebida e diz-nos: amai-vos assim. Lava os pés, dizendo-nos: servi-vos assim, mas prestai atenção, o servo nunca é maior do que aquele que o envia”. O “fundamento da Igreja” está contido em poucas linhas, disse Francisco.

São “palavras e gestos contundentes”, comentou. Mas “se avançarmos com estas três coisas, nunca erraremos. Nunca!». Radical, forte mas “simples”. De resto, “os mártires foram em frente assim». E também “muitos santos anônimos, na vida da Igreja, fizeram assim — os santos escondidos — com esta consciência de ser servos”.

Palavras de Papa Francisco

Um programa de vida relativamente ao qual, disse o Papa Francisco continuando a releitura do Evangelho, “há uma admoestação: ‘Eu conheço aqueles que escolhi'”. Com efeito, o Senhor diz: ‘Sei que um de vós me trairá'”. Que significa? Significa que «Jesus nos conhece. Jesus conhece-me». Por isso, o Pontífice sugeriu a cada cristão: “Acho que nos fará bem a todos, num momento de silêncio, deixar-nos olhar pelo Senhor e fitá-lo”, reconhecer que Jesus nos “ensinou o amor com a Eucaristia” e “o serviço com o lava-pés”, entender que “ninguém é maior do que aquele que o enviou”, conscientes de estar diante de quem nos conhece.

Nesse momento, acrescentou Francisco, é bom “deixar que o olhar de Jesus entre em nós. Sentiremos muitas coisas: sentiremos amor”, ou talvez “fiquemos bloqueados, com vergonha». Contudo “deixemo-nos ver sempre pelo olhar de Jesus. O mesmo olhar com o qual, na última Ceia, Ele fitava os seus”. É uma meditação em que o homem pode dizer humildemente: “Senhor, Tu conheces, Tu sabes tudo”, como Pedro afirmou em Tiberíades: “Tu conheces, Tu sabes tudo. Tu sabes que te amo». Com efeito, o Senhor sabe o que existe no coração de cada um. Trata-se, concluiu o Pontífice, de uma “bonita prece”, graças à qual “sentiremos muitas coisas”.

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Publicado no L’Osservatore Romano, ed. em português, n. 18 de 03 de maio de 2018

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