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Entenda o motivo pelo qual a Igreja Católica impôs o celibato aos padres

por Redação
Entenda o motivo pelo qual a Igreja Católica impôs o celibato aos padres

Quando e por que a Igreja Católica passou a impor o celibato aos padres?

Muitos dizem que a Igreja Católica irá rever essa norma, mas o próprio Papa Francisco já afirmou: o voto que obriga os padres a permanecerem castos, não é um dogma de fé, mas um regulamento da Igreja. Os dogmas são coisas que a Igreja considera “verdades absolutas”. Em resumo, são pontos fundamentais e indiscutíveis de sua fé. Sendo assim, não podem ser modificados. São exemplos de dogmas a ressurreição de Cristo e a Santíssima Trindade.

 

 

Recentemente, em uma conversa com jornalistas, Francisco afirmou que “O celibato não é um dogma de fé; é uma regra de vida que eu aprecio muito e acredito que seja um dom para a Igreja. Não sendo um dogma de fé, sempre temos a porta aberta. Neste momento, contudo, não temos em programa falar disso”
Em um sentido mais genérico, o celibato é a condição de quem, por opção, não vive o matrimônio. E celibato sacerdotal é quando essa escolha é feita por alguém em troca de uma dedicação integral aos serviços religiosos, por meio da ordenação presbiteral.

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Conceitos que determinam o celibato

De acordo com Ribeiro neto, existem cinco conceitos correlatos que costumam ser confundidos na linguagem cotidiana: a castidade, a virgindade, a vocação virginal, o celibato e o celibato sacerdotal.

O celibato sacerdotal

“O celibato sacerdotal é uma condição de oferta total da pessoa ao serviço de Deus e da comunidade. Vincula-se à vocação virginal, mas não se identifica totalmente a ela. Religiosos que não exercem a função sacerdotal também podem manter a vocação virginal por um compromisso ou voto. Pessoas casadas – que, portanto, não podem ser celibatários – podem assumir num certo momento da vida um voto virginal, mantendo-se unidos mas sem terem mais relações sexuais.”

Virgindade

A virgindade é a condição daquele que nunca teve relações sexuais, mas a vocação virginal é a renúncia da vida sexual ativa – ou seja, não é preciso ser virgem para escolhê-la.

Segundo o especialista ” A pessoa renuncia a uma vida sexual ativa, para canalizar toda a sua energia e toda a sua pessoa à relação com Deus” teoriza.

Castidade

Já a castidade “é o estado de integração positiva da sexualidade na pessoa”, de acordo com o Catecismo da Igreja Católica, compêndio com a doutrina católica. “Para os casados, a castidade se exerce mantendo relações sexuais e sendo fiéis um com o outro; para o solteiro, abstendo-se de práticas sexuais próprias dos casados.”

Como surgiu o celibato?

Os primeiros sacerdotes católicos não precisavam ser celibatários. “Isso foi sendo reconhecido como um valor importante ao longo dos séculos”, afirma Ribeiro Neto. “Assim, entre os católicos de rito oriental (os ortodoxos), até hoje existem padres casados.”

Por volta dos séculos 3º e 4º já existiam movimentos dentro do catolicismo propondo que os religiosos deveriam praticar o celibato. “Mas é no primeiro e no segundo concílios de Latrão, ao longo do século 12, que se estabelece a obrigatoriedade definitiva do celibato aos clérigos católicos romanos”, relata o sociólogo. Outros concílios prévios já mencionavam o tema, propondo a abstenção sexual de sacerdotes e proibindo o casamento de monges e freiras foi proibido.

“Desse período antigo, há ainda um decreto do papa Sixto, em 386, e instruções do papa Inocêncio 1º”, afirma o filósofo e teólogo Fernando Altemeyer Júnior, professor do Departamento de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Preocupação da Igreja

A preocupação quanto ao celibato veio à tona com toda a força a partir do século 11. Foi pauta de papas como Leão 9º e Gregório 7º. Havia uma preocupação com a chamada “degradação moral” do clero, naqueles tempos de Idade Média e Igreja Católica superpoderosa.

De forma que o celibato acabaria instituído nos dois concílios de Latrão – o primeiro, em 1123, o segundo em 1139. A partir disso, ficou decretado que clérigos não poderiam casar ou mesmo se relacionar com concubinas. A manutenção de celibato ainda seria defendida em mais um concílio de Latrão (em 1215), e no Concílio de Trento (entre 1545 e 1563).

“Muitos dizem que a partir do seculo 10º a Igreja enrijeceu com o celibato para não desfazer ou partilhar os feudos com os filhos dos padres. Isso, em parte, é verdade”, diz Altemeyer Júnior. “Mas o sentido maior é que haja um missionário livre para assumir missões e cargos.”

Atualmente

A partir do século 20, o tema voltou à tona com o Papa Pio XII. Ele defendeu o celibato na encíclica Sacra virginitas. No segundo Concílio Vaticano, em 1965, dois documentos trataram do tema. O papa Paulo VI também divulgou um documento, De sacerdotio ministeriali, abordando o assunto.

Em 1979, por meio de uma carta, o papa João Paulo II afirmou: “Fruto de equívoco – se não mesmo de má fé – é a opinião, com frequência difundida, de que o celibato sacerdotal na Igreja Católica é apenas uma instituição imposta por lei àqueles que recebem o sacramento da Ordem. Ora todos sabemos que não é assim. Todo o cristão que recebe o sacramento da Ordem compromete-se ao celibato com plena consciência e liberdade, depois de preparação de vários anos, profunda reflexão e assídua oração. Toma essa decisão de vida em celibato, só depois de ter chegado à firme convicção de que Cristo lhe concede esse ‘dom’, para bem da Igreja e para serviço dos outros. Só então se compromete a observá-lo por toda a vida”.

Seu sucessor Bento 16 também fez declarações a respeito do celibato. “Para compreender bem o que significa a castidade devemos partir do seu conteúdo positivo, explicando que a missão de Cristo o levava a um dedicação pura e total para com os seres humanos. (…) Os sacerdotes, religiosos e religiosas, com o voto de castidade no celibato, não se consagram ao individualismo ou a uma vida isolada, mas sim prometem solenemente pôr totalmente e sem reservas ao serviço do Reino de Deus as relações intensas das quais são capazes”, disse ele, em uma homilia.

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Padres casados

De acordo com o Movimento Nacional das Famílias dos Padres Casados, mais de 7 mil brasileiros solicitaram à Igreja a dispensa do sacramento da ordem em troca do matrimônio – a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) não divulga dados sobre o assunto.

Esse número significa que a cada quatro sacerdotes católicos que são ordenados no Brasil, um larga a batina para constituir família.

Há ainda uma perspectiva para aqueles que já são casados, mas desejam desempenhar papéis mais religiosos dentro do catolicismo. Atualmente, a Igreja Católica ordena homens casados como “diáconos permanentes”. “Assim, eles podem desempenhar quase todas as funções dos sacerdotes, com exceção da consagração da hóstia na comunhão e da absolvição dos pecados na confissão”, esclarece Ribeiro Neto.
Se o papa Francisco não deu sinalização alguma de rever a regra, por outro lado a demanda existe: há falta de padres no mundo.

Atualmente, com o Sínodo da Amazônia o assunto veio à tona. “Por isso, houve um pedido de muitos bispos da Amazônia para que se passe a se permitir que haja padres casados para atender às comunidades sem padres”, conta o professor Altemeyer Júnior. “Parece que o papa Francisco estaria disposto a aceitar tal mudança que não exige mudar nenhum dogma ou lei. É só uma disciplina cultural e histórica.”

Dentro do próprio clero, padres questionam se chegou a hora de mudar essa posição. Um dos mais famosos sacerdotes católicos brasileiros da atualidade, o padre Fábio de Melo, por exemplo, já deu entrevistas dizendo que a norma do celibato deveria ser abolida, “por ser algo da Idade Média”. De acordo com ele, a Igreja deveria ordenar casados – e manter a possibilidade de celibato àqueles que quisessem fazer uma “entrega mais radical”.

 

 

Com informações de BBC News
Adaptado por Redação Promocat

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2 comentários

António Brochado da Mota 10 de abril de 2020 - 12:47

Gostei da explicação, mas entendo que não estará completa: devia ser explicado se a manutenção do celibato não deriva, mais propriamente do facto de a Igreja pretender manter o seu património material, impedindo que os seus clérigos distribuam os seus bens materiais pelos possíveis filhos ou pelos seus próprios familiares, ao impor que esses mesmos bens devem reverter a favor do património da Igreja, facto que também é extensivo às freiras e frades que ingressam nos respectivos conventos e lá professam, sujeitos às mesmas normas, que sendo antigas, ainda prevalecem, não tanto como forma
obrigatória, mas observada por dever moral, e, talvez, por algum receio de qualquer penalização de Alguém que lhe seja Superior. Agradeço a vossa opinião, para que possas esclarecer esta minha dúvida.
Muito Obrigado.

Resposta
Vania 19 de outubro de 2022 - 10:33

Acredito que a família é um ministério que exige muito de nós, quem tem sabe, não só por uma questão econômica mas afetiva, atenção, tempo e dedicação, eu que sou apenas leiga por muitas vezes tenho dificuldade de conciliar família e ministério, imagina um padre com todas as responsabilidades que a função exige. Penso eu também , como ficaria estas famílias na falta deste padre? Teríamos uma responsabilidade vitalícia com elas? Porque os leigos independente da Igreja são os provedores de suas famílias, somos os responsáveis pelo bem estar de nossos filhos e cônjuges. Acho que é um reflexão muito profunda para ser feita, não apenas economicamente, mas afetivamente e qualitativamente.

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