Por uma catequese sinodal: aprender com Maria e Isabel

A Igreja católica está vivendo o processo sinodal, como parte integrante da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2023.

Contudo, o caminho sinodal teve início nos dias 9 e 10 de outubro de 2021, em Roma, e no dia 17 de outubro de 2021 em cada uma das dioceses espalhadas pelo mundo todo.

Com o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, a meta do Sínodo dos Bispos, que ocorre regularmente a cada três anos, é despertar e impulsionar todos os fiéis, leigos e ministros ordenados, para o verdadeiro espírito eclesial de caminhar juntos.

A palavra sínodo significa justamente isso: caminhar juntos. E este deve ser o modelo de catequese a ser desenvolvido nas paróquias a partir deste evento que passa a ser um novo Pentecostes para toda a Igreja do terceiro milênio.

O que significa uma catequese sinodal?

O Tempo Pascal, que há pouco foi encerrado com a solenidade de Pentecostes, nos educa para o sentido de comunhão, participação e missão. Durante as semanas do Tempo Pascal, seja na liturgia dominical seja na semanal, ouvimos e meditamos as passagens do livro de Atos dos Apóstolos.

Nestes relatos aprendemos como os discípulos, fortalecidos pelos dons do Espírito Santo, foram capazes de manter a comunidade dos seguidores de Jesus Cristo sempre unida na oração, na partilha conjunta do que aprenderam com o Mestre, na fração do pão e na solidariedade com todas as pessoas (At 2,42-47; 4,32-35; 5,12-16).

Em cada um desses textos citados acima está um sumário, isto é, uma lista de atitudes essenciais que toda comunidade eclesial precisa dar prioridade. São gestos que brotam do Mistério Pascal de Jesus Cristo, o núcleo da fé, que é chamado de querigma.

Na Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, o Papa Francisco traduz o núcleo da fé cristã nestas palavras: “Na boca do catequista, volta a ressoar sempre o primeiro anúncio: Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar”.[1]

E a catequese existe na vida da Igreja para tornar esse conteúdo e essa mensagem viva e atuante no contexto de cada pessoa de fé. Anunciar e ressoar sempre que Jesus Cristo ama sem fazer acepção de pessoas, conforme Pedro fez a experiência diante dos pagãos (At 10,34).

Este amor precisa mover todo gesto e toda palavra de catequistas, dos diferentes níveis, todos os dias. O querigma, a verdade central da fé cristã, tem como princípio o amor sem máscaras, sem manchas, sem preferências, sem ambições. É preciso fazer o amor ser amado, ensina São Francisco de Assis. E não há receita melhor para uma catequese querigmática que não seja reflexo do amor incondicional às pessoas, até à cruz.

Ser catequista sinodal, portanto, é dispor-se a caminhar com as lideranças da paróquia, sem disputas, mas pela única razão que é anunciar Jesus Cristo e sua mensagem de vida nova.

A catequese se tornará sinodal quando catequistas e lideranças, de todos os níveis e setores, sintonizarem seus passos na estrada dos discípulos que Emaús, que deixaram o conforto da casa, e no meio da noite caminharam corajosos de volta a Jerusalém iluminados pela presença do Mestre que lhes explicou as escrituras e repartiu-lhes o pão (Lc 24,13-35).

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Com Maria e Isabel a sinodalidade acontece no encontro

Sinodalidade é caminhar juntos! Em nossas canções à Maria, aprendemos com ela a servir com gratuidade e agilidade. Uma das canções à Maria que ajuda a entender a Sinodalidade é a seguinte:

Maria, Mãe dos caminhantes, ensina-nos a caminhar. Nós somos todos viandantes, mas não é fácil sempre andar.

1. Fizeste longa caminhada para servir a Isabel, Sabendo-te de Deus morada, após teu sim a Gabriel.
2. Humilde foi a caminhada em companhia de Jesus. Quando pregava, sem parada, levando aos homens sua luz!

Quando Maria reconhece que Deus a escolheu para participar de seu projeto de salvação, coloca-se a caminho, sai do seu comodismo e vai encontrar-se com Isabel, sua parenta também grávida.

O encontro entre Jesus e João, Maria e Isabel, a antiga e a nova aliança, resumem a proposta de uma Igreja sinodal: é preciso promover novos encontros.

Mais do que reuniões para cumprir agendas, a Igreja é formada por pessoas que fizeram o encontro pessoal com Jesus e renovam este encontro diante do rosto de irmãs e irmãos. O rosto da Igreja é resultado do encontro alegre e encantador dos fieis que se acolhem mutuamente e elevam a Deus louvores de gratidão por suas inúmeras maravilhas.

Maria é mulher-catequista sinodal porque não busca elogios nem reconhecimento, mas busca encontrar e amparar quem precisa de cuidado no contexto da vida frágil da velhice.

Isabel é mulher-catequista sinodal porque mesmo com idade avançada não afirma que já sabe tudo e não precisa mais de formações, mas aprende sempre de novo que Deus realiza coisas novas, mesmo onde os olhos físicos não conseguem ver. Isabel compreende que a novidade realizada em Maria se estende a todas as pessoas de boa vontade.

Maria e Isabel são espelhos para uma catequese sinodal. No encontro de gerações, na partilha de experiências de vida, o Deus da vida é reconhecido e louvado.

Que a nossa vida seja motivada pela alegria de João que, não contendo a alegria em si, pula e dá sinais de que Maria carrega aquele que é a fonte da alegria e da esperança para o mundo todo, Jesus de Nazaré.

Ariél Philippi Machado é

Catequista na Arquidiocese de Florianópolis (SC), membro da Rede Lumen de Catequese, Teólogo e Especialista em Catequese – Iniciação à Vida Cristã. 

[1] PAPA FRANCSICO. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Evangelii Gaudium, n. 164.